A incongruência no discurso

Esses dias eu me deparei com a seguinte frase dita por um cristão na internet: "Deus não dá a quem não merece".

Fiquei pensando sobre isso e em como processar essa fala sem desmerecer a credibilidade do cristianismo vivido por seu locutor. Uma declaração dessa revela, no mínimo, uma grave falha no desenvolvimento do conhecer a Cristo e sua palavra. Talvez a culpa não deva ser imputada somente a esse alguém que não experimentou a essência da pessoa de Cristo, mas a quem negligenciou o ensino e evangelização desse alguém. Independente de qualquer causa, motivo ou circunstância, há algo de muito preocupante nesse cenário.

Todo sentido da nossa existência passa pela verdade de quem Deus é e quem somos Nele. E isso converge para a obra de Cristo sacramentada na cruz do calvário. O cristianismo parte da premissa de que nada é por merecimento. Tudo é graça de Deus!

O apóstolo Paulo, em uma de suas cartas aos efésios, escreveu: "Vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie." e aos romanos, escreveu: "...sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus." O que recebemos da parte de Deus jamais será por mérito nosso, mas é tudo fruto da graça Dele instituída pela obra redentora de Jesus, seu filho, do qual somos co-herdeiros.

Graça, em uma simples referência, é favor imerecido. Declarar que Deus não dá a quem não merece é a maior incongruência no discurso de alguém que se diz cristão. Todas as bençãos que recebemos é um favor que não merecemos, e devemos ser conscientes dessa verdade. O fato central do evangelho, Cristo em nós — nós sendo portadores do seu Reino, templos ambulantes —  é algo que jamais será pautado por merecimento, bem como o amor incondicional com o qual Deus ama a nós e ao nosso próximo.

Não é por nossos méritos porque se fosse, a graça já não seria graça. (rm 11:6)

Deus dá sim a quem não merece.

E essa pessoa que vos escreve é um exemplo disso!